Imagine que você pede dinheiro emprestado a um amigo. Ele consegue esse dinheiro a um custo baixíssimo, mas quando te empresta, cobra um valor muito maior. Você se pergunta: por que tanta diferença? Essa é, em essência, a lógica do spread bancário. No Brasil, essa diferença entre o custo de captação e o crédito é uma das mais altas do mundo, e isso impacta diretamente o bolso de milhões de brasileiros.
O tema é urgente: em um país onde o endividamento das famílias bate recordes e os juros do cartão de crédito ultrapassam 400% ao ano, entender o spread bancário é quase uma questão de sobrevivência financeira. Vamos conversar sobre isso como se estivéssemos em uma mesa de bar, tentando decifrar juntos por que o Brasil insiste em manter esse peso sobre seus cidadãos.
O que é Spread Bancário?
O spread bancário é a diferença entre o que os bancos pagam para captar dinheiro (por exemplo, via depósitos ou títulos) e o que eles cobram ao emprestar esse mesmo dinheiro para pessoas e empresas. Em termos simples: é o “lucro bruto” do banco sobre o crédito.
- Captação: quando você deixa seu dinheiro na poupança, o banco paga uma taxa relativamente baixa.
- Empréstimo: quando você pede um empréstimo, o banco cobra uma taxa muito maior.
Essa diferença é o spread. Parece simples, mas por trás dele existe uma teia de fatores econômicos, políticos e sociais.
Por que o Spread Bancário no Brasil é tão alto?
1. Taxa Selic elevada
O Brasil mantém uma das maiores taxas básicas de juros do mundo. Em novembro de 2025, a Selic estava em 15% ao ano, o maior patamar em quase 20 anos, segundo o G1. Isso encarece toda a cadeia de crédito.
2. Inadimplência recorde
Com juros altos, mais pessoas deixam de pagar suas dívidas. Os bancos, para se protegerem, aumentam ainda mais os juros, criando um ciclo vicioso. A inadimplência bateu recorde em 2025, conforme dados do Banco Central.
3. Custos operacionais e tributários
O sistema bancário brasileiro é caro. Altos impostos, burocracia e custos de operação elevam o preço final do crédito.
4. Falta de concorrência
Apesar de termos fintechs e bancos digitais, o mercado ainda é dominado por poucos grandes bancos. Menos concorrência significa spreads mais altos.
5. Risco Brasil
Investidores internacionais exigem retornos maiores para emprestar ao Brasil, devido à instabilidade fiscal e política. Isso se reflete nos juros internos.
Entenda melhor
Pense no spread como o preço de uma pizza. O pizzaiolo compra os ingredientes por R$ 20, mas vende a pizza por R$ 80. Claro, ele tem custos de aluguel, funcionários e impostos. Mas será que justifica cobrar quatro vezes mais? No Brasil, os bancos são como pizzarias que cobram caro demais, e o cliente (nós) não tem muita escolha.
Impactos do Spread Bancário na vida cotidiana
- Cartão de crédito: juros médios acima de 400% ao ano.
- Cheque especial: taxas que transformam pequenos atrasos em dívidas impagáveis.
- Empréstimos pessoais: famílias comprometendo mais de 30% da renda apenas com dívidas.
Esses números não são apenas estatísticas: são histórias de pessoas que veem seus sonhos adiados porque o custo do dinheiro é proibitivo.
Será que os bancos precisam cobrar tanto?
Ou será que existe uma cultura de lucro excessivo às custas da população? A FEBRABAN, entidade que representa os bancos, publica estudos defendendo que parte do spread se deve à inadimplência e aos custos operacionais. Mas será que isso explica tudo? Ou estamos diante de um modelo que privilegia poucos e sufoca muitos?
A verdade é simples e dura: quando você deixa seu dinheiro parado — seja na poupança, na conta corrente ou até em um CDB — o banco não deixa esse capital quieto. Ele pega o que é seu, gira no mercado e te devolve uma taxa de juros baixinha, quase simbólica. Mas, quando empresta esse mesmo dinheiro para outra pessoa, cobra juros altíssimos.
É nesse jogo que os bancos se revelam os vilões ocultos da sociedade. Ano após ano, acumulam bilhões em lucros. Não é coincidência que estejam entre as empresas mais sólidas da bolsa de valores e que distribuam os maiores dividendos aos acionistas. Isso não acontece por acaso: mesmo quando anunciam “prejuízo”, o lucro real nunca desce da casa dos bilhões.
No fim das contas, quem paga essa conta somos nós — consumidores, trabalhadores, famílias endividadas. O banco sempre ganha, e nós sempre financiamos esse ganho.
O spread bancário é um reflexo da estrutura econômica brasileira. Enquanto não houver mudanças profundas — mais concorrência, menos impostos e uma política monetária mais equilibrada — o brasileiro continuará pagando caro pelo dinheiro. Entender esse mecanismo é o primeiro passo para exigir mudanças e buscar alternativas mais inteligentes de crédito.
FAQ — Perguntas Frequentes
1. O que é spread bancário?
É a diferença entre o custo de captação do banco e o valor que ele cobra ao emprestar.
2. Por que o spread no Brasil é tão alto?
Por causa da Selic elevada, inadimplência, custos operacionais, impostos e baixa concorrência.
3. Como isso afeta minha vida?
Você paga juros altíssimos em empréstimos, cartões e financiamentos.
4. Existe solução?
Mais concorrência, redução da Selic e políticas públicas que incentivem crédito mais barato.
5. Os bancos são os vilões?
Não apenas. O problema é sistêmico: envolve governo, economia e cultura financeira.

